Sunday, November 26, 2006

Assédio

Eu vi quando você me viu.
Persistente, você sorriu.
Eu vi
Quando você sentiu;
Viu que não seria
Assim, simples.
E me revolveu,
Pousou suas mãos suaves
Nos dedos meus.
Minha barba rala de um dia cortada,
Pavio.
Eu vi
Quando amedrontou.
Meus dedos de leve, passim,
Na nuca -
Arrepiou.
O perfume do tato –
Tudo! – pediu.
Larga a mão de ser besta.
Lá, no pretérito do futuro,
Já assentiu.

Friday, November 10, 2006

Encantos se preparam assim,
De sopetão.
De repente,
Encantos se preparam.
“Faz-se aqui uma reza,
faz-se aqui uma preza,
escrevem-se palavras na celulose,
Proclamam-se palavras ao relento.
Insulta-se o céu,
Pois o tempo urge.
Quer-se que os ventos
Levem, leves, o açoite dos nomes,
Pelos verbos para os dativos e aos acusativos.”
Em cantos do mar e do fogo,
Cantados de forma a que
Cresçam na terra,
No mundo, estes róseos encantos.

Saturday, November 04, 2006

brisa

Sopra o quente ar
Enriquecido pelo corpo
Movido a ritmo intermitente.
Sopra para cima,
Enriquecido o ânimo
Busca as nuvens.
Sustenta o corpo
Os momentos inventados
De cor.
Sustenta o ânimo
Opressão do engenho
Comovido pelo desejo
Sobra a espera
Daquilo que se anuncia
Industriosamente
Sobra o acaso,
A contingência,
Felizmente!

Toda a ciência seria supérflua...

Enquanto sobe o amarelo incandescente,
Dia após,
Dia, segue o olhar do ansioso,
Louco de vermelho, pleno de perfume.
Morre uma visão morosa da vida,
Adicional, aditiva, coordenada, para que o adverso
Instale-se.
Fortuna cor de rosa, sangue,
Suor e lágrimas é o que no fundo é
O resultado provisório desse cotidiano,
Todo já vermelho.
Nem apositivo, explicativo, subordinado, que assim o adverbial
Entale-se.
Até que a oração se revela óbvia,
Para além das metáforas e de todos os jackobsonismos:
Que flor? Aquela óbvia, porque o óbvio é sempre
Afinidade eletiva.
O nome engana, é vermelha no espectro,
Tem espetos e magoa,
No entanto, foi e é
Modelo de primeira declinação.
Quando sobe o prata no fundo negro,
Ainda o vermelho, perfumado
Desenrola-se.